Não houve Grande Navegação na Idade Moderna sem vinho.
Foi o gosto dos europeus pela bebida, que, inclusive, disseminou o cultivo de uva mundo afora. Antes disso, na Idade Média, fez parte de cada refeição – e foi a época que surgiram algumas vinícolas que existem até hoje.
Também permeou toda a cultura greco-romana, por meio da mitologia (deus Baco ou Dionísio, só escolher o seu preferido), e esteve em tumbas de faraós egípcios, civilização mais antiga da história da humanidade…
Acredite ou não, alguns arqueólogos acreditam que o vinho teria surgido na pré-história. Isso porque resquícios dos caroços de uvas foram encontradas em cavernas estudadas até os dias de hoje.
A facilidade de fermentação da uva, a partir do momento do seu cultivo, é o que induz, de certa maneira, as pesquisas sobre os homens mais primitivos já consumirem uma bebida muito parecida a um estilo mais rústico de vinho. Até o presente momento, porém, não há nenhum tipo de indício que prove que já se produzia vinho nessa época.
Em que momento, então, começou oficialmente a fazer parte da história? Exatamente a partir da domesticação das vinhas, a partir da Revolução da Agricultura. O mais aceito pelos pesquisadores é que sua origem está exatamente entre a Geórgia, Armênia e Turquia, numa região conhecida como Cáucaso. E há quanto tempo? Nada mais nada menos que 8 mil anos.
Àquele tempo, a bebida passou a ser vendida pelos povos mesopotâmicos. Os vinhos eram acondicionados em odres – espécie de bolsas feitas de peles de animais – e então transportadas. Mais tarde, viria a ser vendida entre os sumérios e babilônios. Foram se passando os anos (ou melhor dizendo, os séculos, milênios), e no século III a.C. longas faixas de terra ao longo do Nilo eram dedicadas ao cultivo de uvas.
Um dos melhores registros disso vem, inclusive, de achados arqueológicos no Egito. Foi nos desenhos e hieróglifos registrados meticulosamente como era feita a vinicultura, prensagem das uvas e o processo de fermentação. É lá também que está a origem dos primeiros rótulos, onde havia informações sobre as uvas, safras e até descrição dos sabores do vinho sobre jarras de barro.
Não pense, porém, que o vinho era consumido cotidianamente pelos egípcios. Considerado uma bebida especial, era reservada às oferendas aos deuses e reis.
Não há como negar a importância dos gregos na difusão do vinho na Antiguidade. A aplicação da resina em seus vinhos e ânforas mais resistentes contribuíram na conservação da bebida para atravessar longas jornadas e chegar a outras partes do mundo.
Foram os povos helênicos, também, os primeiros a estudar as propriedades medicinais do vinho. Diferente de como era no Egito, na Grécia, o consumo estava arraigado a praticamente todos os estratos sociais.
Grandes ilhas da Sicília, a costa da península da Itália e o sul da França – todas colônias gregas – também receberam influência da Grécia no que diz respeito a cultura de vinho. Os próprios pesquisadores se dividem quando a questão se volta à produções anteriores de vinho onde hoje é a França e a Itália. Nesse debate entram tradições dos celtas, etruscos e gauleses.
Foram os romanos que facilitaram ainda mais o transporte e conservação do vinho – criaram os barris de madeira. Mas só no próximo capítulo da história Antiga, com o Império Romano em ascensão, que a viticultura foi levada ao restante da Europa, onde começou a se desenvolver como a conhecemos hoje.
As outras versões…
A descoberta de uma adega de 3.700 anos de idade, na cidade de Tel Kabri, sugere que o vinho teria nascido em Israel. A hipótese, inclusive, foi tema de reportagens do Wall Street Journal e New York Times, com base na história de um grupo da Universidade George Washington, que encontrou 40 jarras contendo o que um dia foi vinho.
Sendo verdade ou não (essa não é a mais aceita das hipóteses, como você já viu), o interessante da descoberta foi identificar como eram os vinhos antigos: doces, fortes e medicinais. Ainda foram identificados toques de canela na bebida. O arqueólogo Andrew Koh encontrou, ainda, traços de compostos que sugerem que outros ingredientes foram adicionados ao vinho, incluindo mel, menta e ervas.
Outra hipótese bem lúdica, diga-se de passagem, é que a histórica bebida tenha surgido ainda na Pangea! Não sabe do que estamos falando? Do tempo em que todos os continentes eram um só… Pois bem, quem defende a ideia é Paul Lukacs, em seu livro “Inventando Vinho: A nova história de um dos prazeres mais antigos do mundo”.
A tese baseia-se na especulação de alguns cientistas de que a família de plantas que originou a vinha seja de uma trepadeira que existia no supercontinente Pangea, antes que as terras se separassem, criando vários continentes em vez de um só.
Paul diz ainda que o vinho é um processo natural, que se dá com a quebra da casca das uvas, provocando a fermentação e que isso sempre ocorreu, refutando a ideia de que o processo de vinificação foi inventado pelo homem.
De qualquer maneira, o prazer que é o vinho como o conhecemos e que está desde o nosso dia a dia até as comemorações mais especiais tem muitas histórias e hipóteses de seu surgimento. Em qualquer uma delas, não deixa de existir o sabor misterioso e agradável que os nossos vinhos preferidos tem!
Fonte: sonoma.com.br